17 de fevereiro de 2017
ficará gravado em mim para sempre. Apesar de não ser meu primeiro
Cortejo Tia Marcelina esse foi sem sombra de dúvidas, até hoje, o
mais significativo. O Tia Marcelina sempre buscou unir na mesma
avenida sob o som dos mesmos tambores o maior número possível de
grupos culturais, casas de axé, maracatus, enfim de pessoas que
comungam dos mesmo ideais de igualdade, respeito e resistência.
Na última sexta vivi
momentos únicos que talvez nunca se repitam, e decidi vivê-los em
sua plenitude. Desde a consagração do Mestre Sávio do Maracatu
Nação Acorte de Alagoas quando aos pés de seu Pai de Santo
reafirmou o compromisso de servir aquela corte em corpo e em espírito
atendendo aos pedidos da ancestralidade de algo que é maior que nós,
mas que muitos menosprezam.
Esse momento me fez arrepiar
e reafirmar a certeza que ser Mestre é mais que conduzir uma
batucada é uma responsabilidade maior que a musical, ela é moral,
pessoal, intransferível e, sobretudo de fé e dedicação. Me fez
fortificar o respeito que já tenho pelos meus Mestres Sandro e
Letícia.
Na sede acolher o Pajé
Purinã Xucuru Kariri e poder receber de índio Kauanã, em meu rosto
uma pintura significativa de sua cultura e que veio de seu coração
é uma honra imensa. Sem preocupações estéticas ou de que desenho
viria a meu rosto sentei fechei os olhos e agradeci pelo que ele
naquele momento sentiu e refletiu em mim.
Ele abençoou a todos que
ali estavam independentemente do grau de aceitação, entendimento ou
respeito pelo que estava a ocorrer, sem distinções todos que usaram
aqueles cocares levam consigo uma benção tradicional de nossa
terra, de nossos ancestrais, daqueles que foram usurpados de sua
cultura e quase dizimados pelas conveniências individualistas que
ainda perpassam a nossa sociedade e nosso convívio diário.
É pena que as pessoas não
dimensionem o que aconteceu no dia 17/02/2017. Estavam na Rua Barão
de Jaraguá, em frente ao 381, minha morada de todos os domingos,
nada mais nada menos que representantes de 05 diferentes Casas de
Axé, vindos das mais distantes periferias de Maceió para comungar e
celebrar a memória dessa Mãe Preta que morreu pelo direito de
exercer sua fé.
Eram Maracatus, Afoxés e
uma linda banda de samba reggae composta por crianças do Benedito
Bentes que trouxeram sua arte para avenida, que desfilaram seu
orgulho e que reafirmaram sua luta. Isso é muito maior que os
percalços passados pra chegar até ali. É muito maior que o
individuo, que eu, que você que ta lendo que qualquer coisa. Tudo é
menor quando você tem a perspectiva daquele ato.
Dentre as diversas coisas
que ficarão dessa linda noite na minha vida duas valem destaques:
1- A Reafirmação de que a
organização do Jaraguá Folia não tem a dimensão desse ato mesmo,
porque são 8 anos indo pra rua e nunca conseguimos um fechamento de
rua que impedisse carros de buzinar e acelerar e tentar bagunçar uma
celebração tão bonita. O organizador mor passou por lá, eu vi,
ninguém me disse. Não parou pra falar com ninguém ou pra perder
dois minutos de seu tempo observando o esforço de cada um pra ta
ali. Mas sem problema vai ter tambor na avenida sim. Sempre.
2- A absoluta certeza que é
muito mais que bater tambor, que carregar uma alfaia que rodar com o
xequere na mão. Que é mais que minha roupa, meu cabelo, meu cocar.
É mais que eu! É sagrado e profano, é de fé, de ancestralidade,
de amor, de respeito pelo próximo. E que de nada adianta pular,
sorrir e brincar se você não compreender isso
.
Cada oração, cada benção,
cada ato, cada sorriso e cada lágrima tem uma razão de ser. É a
Coletividade das Nações, pessoas e fé acima da mesquinhez do pobre ser humano invidualista.
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